Por Liliana Sousa e Silva, paisagista da Verde Tistu
Uma imersão na Mata Atlântica vivenciada durante a visita técnica ao Legado das Águas marcou a minha chegada ao Papo de Paisagista, em maio de 2023. Além dos inúmeros aprendizados paisagísticos e de trocas entre os participantes, nessa viagem tivemos um verdadeiro banho de floresta.

O Legado das Águas é uma reserva privada de Mata Atlântica, administrada pela Reservas Votorantim, que ocupa uma área de 31 mil hectares no Vale do Ribeira, entre os municípios de Juquiá, Tapiraí e Miracatu. Sua atuação alia a proteção da floresta e o desenvolvimento de pesquisas científicas à produção de plantas nativas e ao ecoturismo.

A produção de plantas para restauração ecológica de áreas degradadas e projetos paisagísticos é realizada no Centro de Biodiversidade da Mata Atlântica, que tem capacidade produtiva de 200 mil mudas por ano, produzidas a partir de sementes de mais de 80 espécies nativas coletadas diretamente na floresta. Um fato interessante é que mais de 80% da equipe do Legado é composta por moradores do Vale do Ribeira.
Além do “banho de floresta” – expressão que remete a “Shinrin-Yoku”, prática terapêutica desenvolvida no Japão em 1982 com benefícios comprovados pela ciência para a saúde física e mental dos praticantes – tivemos a oportunidade de conhecer várias espécies vegetais nativas que podem ser utilizadas no paisagismo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental. Em um país que detém a maior biodiversidade nativa do planeta e que teve grande parte dessa riqueza degradada, a sustentabilidade torna-se um ponto fundamental a ser considerado pelos paisagistas. Como diz Ricardo Cardim, projetar a paisagem não diz respeito somente a pessoas, mas também à fauna e à flora nativas. Essa perspectiva foi bastante fortalecida nos momentos de reconexão que tivemos com a natureza em meio à Mata Atlântica, quando pudemos andar na floresta, conhecer mais sobre diversas espécies nativas do bioma, além do trabalho de produção de mudas que vem sendo executado pela equipe do Legado.

Dentre as várias espécies a que fomos apresentados, podemos destacar a Piper umbellatum, conhecida popularmente como Pariparoba ou caapeba, dentre outros nomes. Essa planta possui ciclo perene, prefere clima tropical, solos ricos em nutrientes e matéria orgânica, rega constante sem encharcamento. É encontrada em diversas regiões do país e propagada por sementes, rebentos da raiz ou estacas.

Plantada no solo, pode alcançar dois metros de altura. Possui folhas pecioladas, largas e ovaladas. As flores pequenas e discretas possuem tonalidade creme-esverdeada. Os frutos são pequenos, com sabor adocicado. A planta é conhecida no Brasil há séculos, sendo amplamente empregada por suas propriedades medicinais e alimentícias. As folhas, o caule, as sementes e raízes são usadas popularmente por sua ação analgésica, antitérmica, anti-inflamatória e anti-anêmica. Suas raízes são indicadas para afecções hepáticas pelo menos desde a primeira edição da Farmacopeia Brasileira, em 1929.
Mas, para além de seu uso medicinal, é considerada uma planta alimentícia não convencional (PANC), sendo seu uso similar ao da couve. Suas folhas podem ser refogadas, empregadas em saladas ou utilizadas para embrulhar outros alimentos para o cozimento. O caule também pode ser aproveitado como condimento. Fica então o desafio de como utilizar no paisagismo essa planta nativa linda que tem uma folha em formato de coração!
Fontes:
Biologia da paisagem – https://biologiadapaisagem.com.br
Coisas da Roça – https://www.coisasdaroca.com
Legado das Águas / Reserva Votorantim – https://legadodasaguas.com.br
Planta Mundo – https://www.plantamundo.com