Por Lilian Casagrande
Navegando pelo Instagram, um seguidor conseguiu acender um alerta importante na minha cabeça – que, convenhamos, até então estava escancarado na minha frente e eu estava insistindo em ignorar.
Estamos vivendo um momento de aproximação com a natureza, mas isso também tem colocado um holofote especial em algumas espécies que se tornaram as queridinhas, as plantas da moda!
Esse seguidor é um exemplo clássico da pandemia. Acredito que quase todos nós já ouvimos pelo menos uma estória parecida com a dele por aí:um dos principais hobbies era viajar e, de repente, se viu trancado em casa. Médico responsável, vivendo o caos de perto, sem coragem de sair, sem coragem de compartilhar o que antes lhe fazia tão bem, já que incentivar as pessoas a viajarem não era o melhor a se fazer.
Começou a olhar mais para o que antes não o incomodava dentro de casa. Foi fazendo e ajustando o que faltava. E, de repente, se viu picado pelo bichinho do amor às plantas. Tanto que, em poucos meses, saiu do zero para não sei nem quantos vasos – muito mais do que eu tenho, com certeza! E, com isso, nossas conversas aumentaram.


Plantas da moda e a história
Plantas da moda sempre existiram no paisagismo (não vamos esquecer que a primeira bolha financeira da humanidade surgiu da venda de tulipas!) e a pandemia trouxe um aumento no custo de tudo, inclusive das plantas. Todos nós vimos vários absurdos por aí no último ano e meio. Alguns inexplicáveis. Mas, como eu disse, até então eu não havia feito todos os links.

E isso aconteceu depois dele comentar e compartilhar um post de uma terceira pessoa (Fernanda Azevedo, carioca, bióloga – @fernland.plantas no instagram) que dizia sobre as “plantas must have na coleção”. Na legenda da foto, um texto falando sobre pessoas se sentirem mal por não terem uma determinada planta diante da enxurrada de post com plantas lindas que estão na moda e que “todo mundo tem que ter”.





Direita – Costela-de-adão variegata – planta rara. Foto: @entreplantaseplantões
Impacto das plantas da moda no paisagismo
Portanto, temos ali em cima o primeiro ponto de impacto da moda no paisagismo, que é o custo, e aqui o segundo e o terceiro pontos que são o despertar da ansiedade e a demonstração do status/poder.
Não pretendo falar muito sobre status porque essa é uma discussão profunda e mais difícil de ser trabalhada. Acredito que cada pessoa tem sua maneira de desejar e de expressar determinado grau dele. Todos temos. Mente ou não percebeu ainda quem diz que não.
Agora, sobre a ansiedade: cliente, você não precisa ter todas as plantas do momento! Não precisa pagar fortunas em plantas a menos que você possa e realmente esteja apaixonado por elas. Acredite em mim: você pode esperar os preços baixarem! Ou pode se apaixonar por plantas diferentes.
As opções são inúmeras. Nós, paisagistas, fazemos isso todos os dias já que trabalhamos com elas, tendo maior facilidade e liberdade para conhecer as opções e os vendedores. Aprendam a fazer isso também!
Voltando ao post: ela finaliza falando o óbvio saudável (amém!). Adaptando para as minhas palavras: seja feliz tendo a planta que você quer ter, já que não existe planta melhor que a outra.
Moda x afeto
Durante um “Papo Online” com a jornalista Natália Fontes Garcia, colunista do portal Papo de Paisagista, a paisagista Katia Crespo, colega e também membro do portal, contou o feedback de um cliente após a conclusão do projeto: ele estava feliz por ter um jardim afetivo, carregado de memórias, de plantas que tinham significado por terem feito parte da vida dele.

Foto: arquivo pessoal Lilian Casagrande
Dessa fala, o que mais me marcou não foi esse fato, já que é o que muitos de nós buscamos fazer, embora alguns mais do que outros –que é o caso dela. O que de fato me marcou foi ela dizer saber que os jardins que ela projeta dificilmente teriam chances de aparecer em uma publicação de revista.
Então, esse é o quarto ponto: a moda determina que profissionais terão mais ou menos destaque/ relevância nas mídias e qual será o seu público-alvo e o perfil das parcerias. Esse é um fato que por si só não é nem ruim nem bom. Sabemos que público e parceiros existem para todos. É apenas uma questão de perfil.
Estamos vivendo um momento em que a profissão está há poucos passos de ser reconhecida, em crescimento e muitos novos profissionais não tiveram contato o suficiente ainda com estilos diversos de projetar. Nem mesmo com muitas reflexões importantes sobre o papel do paisagista, como as possibilidades do seu trabalho, o atendimento de expectativas do mercado, os aspectos de responsabilidade em relação à biodiversidade, os impactos no ecossistema e na produção de mudas, etc.
De paisagista para paisagista
Desse modo, para você caro amigo paisagista, simplesmente copiar o estilo de projeto da moda com as plantas da moda pode não ser a melhor solução. As escolhas que fazemos devem ser conscientes e extrapolar os limites “impostos”. Se a moda estiver dentro da proposta do paisagismo que você precisa fazer por coincidência, ótimo. Caso contrário, seja um profissional consciente e lute para propor a melhor solução!
O quinto ponto é uma via de mão dupla e nós temos que saber usar isso ao nosso favor: tanto os produtores influenciam a moda quanto a nossa demanda também. Quanto mais produtores conhecermos, mais poderemos solicitar a produção de uma muda que ninguém está usando ainda, por exemplo. Além disso, eles também vão entender as demandas e se adaptar a elas. Não somos nós que devemos ficar restritos ao que eles produzem.


Fator diferenciação
De todas as conexões que fiz, chego no sexto ponto trazendo uma situação que eu mesma vivi: o fator diferenciação. Ouvi de um parceiro que faz perspectivas eletrônicas diariamente para outros paisagistas, muitos deles de grande relevância no mercado, que ele havia gostado de um projeto meu pela riqueza de diversidades de espécies e cores. Ele não estava ali analisando a estética, dizendo se estava bonito ou não. Estava dizendo que eu estava fora do padrão de projetos que ele andava vendo diariamente. Me senti bem ao ouvir isso!
Encerro minhas reflexões com o desejo sincero de que decisões mais conscientes passem a ser tomadas, considerando o que realmente importa caso a caso e na esperança de que ninguém mais sofra por não poder ter alguma planta.
Afinal, elas devem trazer alegria e leveza, jamais tristeza e pesar. Teve mais algum insight sobre o assunto? Compartilha comigo nos comentários! 🙂
Katia Crespo disse:
Adorei Lilian! Compartilho as mesmas reflexões que fez! Ótimo artigo! Parabéns!🌺🌸
victoria regia jesus de souza disse:
Gostei muito do seu post , suas colocações são perfeitas! O que acontece é que todos os jardins acabam ficando com a mesma cara, o mesmo jeito .enquanto nossa flora é tão rica, tão diversificada!
Parabéns pelo texto!