O recurso à natureza, o cercar-se de mais verde, foi a salvação para muitos durante a pandemia que assolou o mundo. Estudos provam que o contato com a natureza traz inúmeros benefícios mentais e físicos para o ser humano; mas nem todos tem o privilégio de possuir uma casa no campo ou no litoral onde se refugiar e se manter mais saudável mental e fisicamente. Como reflexo desse revés que o mundo sofreu nos últimos 18 meses, forçando o isolamento em casa, a falta de vida ao ar livre e de contato com as pessoas, viu-se um aumento extraordinário no número de pessoas que tentaram de todas as formas se aproximar mais da natureza. Muitos, mesmo aqueles que anteriormente não se interessavam por plantas ou jardinagem, começaram a querer ter mais plantas dentro de casa, a criar jardins em vasos, a valorizar suas varandas, por menores que fossem, e que até entao viviam vazias e inusadas.

Essa tendência, por sua vez, se refletiu tambem no Chelsea Flower Show – feira anual de paisagismo e jardinagem em Londres, uma das mais prestigiadas do mundo, onde são apresentados projetos paisagísticos criados por renomados paisagistas. Este ano foram criadas duas novas categorias de projeto: jardins em varandas e jardins em vasos.

Normalmente realizada em maio, este ano, pela primeira vez na sua história, aconteceu no início do outono inglês, entre 21 e 26 de setembro, por conta da pandemia.

Neste artigo vou apresentar alguns dos projetos criados para o Chelsea Flower Show 2021 inaugurando essas duas novas categorias.

Jardins em varandas:

Arcadia

Projetado por Martha Krempel, portões indianos antigos funcionam como um portal entre a realidade e a fantasia, com a ideia de infinito transmitida pela pintura que o enquadra.

Foto: RHS

A pérgola serve de suporte à cadeira suspensa:

Foto: RHS

Sky Sanctuary

Projeto de Michael Coley. Projetado para uma pequena varanda em andar alto, o objetivo foi criar um refúgio nas alturas, permitindo a contemplação e o relaxamento em meio à agitação urbana. O paisagista buscou também mostrar que, mesmo sendo pequena, a área pode incorporar espaços com diferentes funções: lazer, refeições etc.

Foto: RH
Foto: RHS

Green Sky Pocket Garden

Projetado por de James Smith para ser um antídoto à vida urbana agitada, quase todo o espaço é usado para o cultivo de temperos e plantas comestíveis, o que o torna uma área extremamente aromática.

A simetria é dada por duas Árvores de Morango (Arbutus unedo), e, como ponto focal, uma escultura de bronze.

Foto: RHS

Temperos e outras plantas entre as pedras do piso.

Foto: RHS

Jardins em vasos:

The Stolen Soul Garden

Projeto de Anna Dabrowska-Jaudi, que buscou representar as emoções humanas e chamar a atenção para questões da nossa saúde mental, aumentando, dessa forma, a conscientização sobre essas questões, especialmente em vista da nova realidade criada pela pandemia global.

A parede ao fundo representa a extensão e escuridão de emoções como o medo, o vazio, o desespero, enquanto as plantas nos vasos simbolizam a empatia, a alegria e a luz. A pedra ametista no centro, ponto focal do jardim, é símbolo da espiritualidade em nossas vidas.

Foto: RHS

O espelho d’água simboliza a vida e conecta todos os elementos do jardim, refletindo-os na água.

 The Hot Tin Roof Garden

Projeto de Ellie Edkins. Apesar de criado para uma área urbana, foi inspirado pela vida em lugar  praiano.

Grandes vasos de aço corrugado dominam o espaço, contendo plantas de meia sombra, que transmitem frescor. Nos elementos construtivos, foram usadas cores que refletem a areia e o mar.

Foto: RHS

O formato em curva predomina, presente tanto nos vasos como na estampa dos azulejos.

Foto: RHS

A Tranquil Space in the City

Projetado por Mika Misawa, um jardim para quem mora na cidade, mas que busca tranquilidade, com pequenos detalhes inspirados por tradições japonesas. Fragmentos da natureza – como a pedra e os pedriscos – contribuem para a sensação de calma.

O jardim é composto de um misto de plantas de folhagem – Bordo (Acer palmatum), Pinheiro-anão (Pinus mugo), Eulália (Miscanthus sinensis) e Evônimo do Japão (Euonymus microphyllus) -, e uma única flor, trazendo cor ao ambiente e a sensação de se estar “no aqui e agora”.

Foto: RHS

 O design minimalista permite que se aprecie as formas e texturas de cada planta.

Foto: RHS

Pop Street Garden

Criado por John McPherson como um jardim para impulsionar a transição entre o lockdown e a liberdade para saídas, e inspirado por referências da cultura pop, incluindo Pop Art e Street Art contemporâneas. Tem cores vibrantes, é arrojado e lúdico.

É também um exemplo da liberdade que o jardim em vasos dá para se quebrar regras, misturando-se cactos com plantas que requerem umidade…

Foto: RHS

Um espaço para receber os amigos para drinques e se energizar com as diversas formas e texturas, até chegar o dia da tão esperada primeira noitada fora de casa, ao cessar o lockdown.

Foto: RHS

Foi uma grande inovação a inclusão dessas duas categorias de jardins pelo Chelsea Flower Show, um reflexo da reviravolta que o mundo deu e que, espera-se, torne a vida no nosso planeta mais saudável e mais respeitosa da Natureza. Elas mostram também que você pode criar pequenos oásis independentemente do tamanho do seu espaço. 


Vitoria Davies – Paisagista

Sócia-fundadora da empresa VITORIA DAVIES PAISAGISMO, formada pela The English Gardening School, em Londres, além de cursos presenciais no IBRAP (Paisagismo Básico, Implantação e Manutenção de Jardins, Escolha de Espécies Vegetais, Projeto e Orçamentos) e na EPP (Iluminação).


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